Alimentação viva: consumir alimentos frescos, orgânicos e crus deixa a pessoa mais bem disposta, dizem os defensores dessa dieta
Você conseguiria comer apenas produtos crus ou levemente cozidos? É assim na chamada alimentação viva, um braço do vegetarianismo. A vantagem, segundo os defensores da dieta, é que a vitalidade da comida é transferida para quem consome.
Não, alimentação viva não significa colocar alguma coisa se mexendo no prato. É um tipo de nutrição que prioriza principalmente brotos, sementes germinadas, frutas, legumes e verduras. De preferência, tudo orgânico. Os adeptos da dieta, também conhecida como life food, acreditam que os brotos têm mais energia vital e que quem os consome também tem. Detalhe: segundo os preceitos da alimentação viva, nada pode ultrapassar a temperatura de 40 graus Celsius no processo de preparação - só para comparar, um bolo simples ou um pão caseiro dificilmente são assados em forno comum a menos de 180 graus.
No preparo, o fogão é deixado de lado e dá lugar a um equipamento chamado desidratador, um aparelho que ajuda a cozinhar os alimentos. O processo é lento e a temperatura pode ser controlada. Existem produtos domésticos à venda, que custam a partir de 100 reais.
Entre os especialistas, há quem defenda o cozimento ao sol. Você leu direito: demora muito mais para ficar pronto e tem de ter alguns cuidados bem peculiares, como cobrir o alimento com uma telha, mas a vantagem principal seria absorver a energia solar.
A comida não é fria
A chef Tiana Rodrigues, do restaurante Universo Orgânico, no Leblon, Rio de Janeiro, desmente que tudo seja consumido frio. "As pessoas têm essa ideia, mas os pratos são mornos. Não é pelando de quente, nem congelado".
Tiana conheceu a alimentação viva em Nova York, quando teve contato com as ideias de David Jubb. O neurofisiologista australiano, considerado um guru do vegetarianismo, acredita que quando o alimento passa dos 40 graus Celsius ele perde enzimas essenciais para a digestão. Quando cozidos, os produtos perdem enzimas e com isso o organismo trabalha mais para compensar e, com o tempo, se desgasta, explica Ana Maria Figueiredo Ramos, nutricionista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
É com o desidratador que Tiana prepara os pratos mais "acessíveis ao paladar", como pizzas, pães, lasanhas, crepes e até um hambúrguer. "As pessoas pensam que é só capim, mas não é. Faço uma massa de nozes, alho, cebola e cogumelo portobello, que dizem valer por um bifinho de tão nutritivo", diz. "Coloco no desidratador e sai de lá com o formato de um hambúrguer. Costumo servir com salada, para repor o líquido perdido no processo, pão de essênio (feito de grãos e que não é assado) e maionese enriquecida com castanha de caju", ensina.
O mineiro Flávio Passos descobriu a alimentação viva na Califórnia. Ele prefere as receitas mais simples. "Bebidas rápidas são as minhas preparações preferidas, mas também faço pizzas com queijo de amêndoas, espaguete de algas marinhas, bolos e tortas", conta o chef, que é especialista em nutrição orgânica. Para ele, um pouco de criatividade e alguma técnica bastam para que alimentos crus e saborosos possam atrair cada vez mais interessados.
Outro lado
Apesar da dieta do life food ser bastante nutritiva, ela não é suficiente para repor tudo que o corpo precisa. Nem sempre o alimento cru é o mais adequado para nosso organismo. "Soja, feijões, ervilha e grão de bico crus ou pouco cozidos, por exemplo, podem conter substâncias chamadas de "antinutricionais" e que interferem na absorção de vitaminas e minerais", observa a nutricionista Kátia Gavranich Camargo, de São Paulo.
"Uma alimentação composta somente por alimentos cozidos também é pobre em nutrientes, pois muitos se perdem durante o cozimento. O ideal seria compor uma dieta com proporções equilibradas dos dois para o bom funcionamento do organismo", completa. Assim como o consumo dos alimentos crus tem suas vantagens, o cozimento também. Ele é responsável por aniquilar microorganismos que podem ser nocivos à saúde e até mesmo garantir mais sabor para a comida.
Há teorias que garantem que a cocção também foi importante para a evolução do homem. Uma delas é do antropólogo de Harvard, Richard Wrangham, autor do livro Catching Fire: How Cooking Made Us Human (Pegando Fogo: como o Cozimento nos Tornou Humanos, em tradução literal). No livro, ele explora o assunto e diz que foi o domínio do fogo e o cozimento das carnes que fez com que o ser humano se diferenciasse dos chimpanzés.