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sexta-feira, 26 de março de 2010

Novo medicamento contra diabetes recupera funções do pâncreas


O Brasil está participando de um estudo que, se comprovada a eficácia, pode mudar a vida dos diabéticos.

Centros de pesquisa de diferentes países testam uma nova geração de uma classe de medicamentos que pode reduzir a quantidade de medicação utilizada por pacientes com diabetes tipo 2 e ainda recuperar parte do funcionamento do pâncreas. Os novos remédios devem chegar ao mercado dentro de um ano.

Produzidas por indústrias americanas, suíças e japonesas, as novas medicações estão sendo consideradas como a terceira geração de drogas já conhecidas de quem tem a doença. As incretinas são hormônios gastrointestinais existentes no organismo, que desaparecem quando a pessoa desenvolve diabetes do tipo 2. Os diabéticos tomam essa classe de medicamentos para aumentar a quantidade de insulina no organismo e produzir saciedade.

Hoje, no mercado, existem dois tipos de incretinas sintetizadas, as orais e as injetáveis. Elas fazem parte da primeira geração dos medicamentos, que precisam ser tomados diariamente. As novas pesquisas testam a terceira geração desses remédios, feitas para serem tomadas (ou injetadas) apenas uma vez por semana. A segunda geração não produziu os efeitos esperados pelos cientistas.

“São medicações sofisticadas, de ação prolongada e com menos efeitos colaterais”, garante o endocrinologista João Lindolfo Borges, um dos pesquisadores envolvidos no estudo. Borges faz parte do Centro de Pesquisa Clínica do Brasil, instituto privado vinculado à Universidade Católica de Brasília (UCB). Para ele, as vantagens do remédio são inúmeras, inclusive na melhoria na produção de insulina.

Excesso de peso

Segundo o médico, essa é a única classe de remédios contra o diabetes – a doença não tem cura – capaz de reverter a perda do funcionamento do pâncreas, que entra em falência por causa da doença. Borges explica ainda que as incretinas sintetizadas em laboratório atuam no sistema nervoso central inibindo a fome mais rápido e retardando o esvaziamento do estômago. Isso significa que os pacientes demoram mais a comer.

“Isso é importante porque 90% dos pacientes com diabetes tipo 2 têm excesso de peso. Se ele perde peso, outros benefícios são adquiridos. Por exemplo, a pressão melhora, a taxa de triglicerídeos também”, afirma o pesquisador. A estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) é que 250 milhões de pessoas em todo o mundo tenham diabetes e que 30% delas não saibam da doença.

No Brasil, dados do Ministério da Saúde mostram que 7,5 milhões de brasileiros com mais de 18 anos têm a doença diagnosticada. Desse total, 90% são pacientes com diabetes tipo 2. O professor da UCB lembra que, mesmo com os medicamentos, os pacientes precisam lembrar que manter a dieta alimentar e praticar exercícios são essenciais para o tratamento da doença.

Pesquisas constantes

No Centro de Pesquisa Clínica do Brasil, Borges desenvolve outros estudos com medicamentos já utilizados para tratar o diabetes. Um deles deve ser apresentado em junho no Congresso Americano de Diabetes, nos Estados Unidos. Há algum tempo pesquisadores alertaram para o perigo de uma droga comumente utilizada no tratamento do diabetes, as glitazonas.

Segundo esses estudos, elas aumentariam a incidência de doença cardiovascular e osteoporose os pacientes que a ingerem. A pesquisa Borges mostra como as glitazonas provocam a perda óssea nas pessoas que a utilizam. No estudo feito por ele, não houve aumento de casos de doença cardiovascular.

Ele explica que o precursor que produz as células dos ossos é o mesmo das células adiposas. Com a glitazona, esse processo pode sofrer intervenção e ser invertido, fazendo o corpo produzir mais gordura e menos osso. O médico conta que o remédio deve ser retirado do mercado em breve.

Testes em humanos

Como qualquer avaliação de medicamentos em seres humanos, a utilização desta nova geração de incretinas em brasileiros teve de ser aprovada pelo Conselho de Ética da universidade, pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Os pacientes que participam da pesquisa recebem todo o tratamento gratuitamente.


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