Caso Bruno: inquérito conclui que goleiro aproveitou a Copa do Mundo para assassinato de Eliza Samudio
Marcelo Portela, O Globo e G1
BELO HORIZONTE - O goleiro Bruno premeditou o assassinato de Eliza Samudio, aproveitando a suspensão dos campeonatos durante a Copa do Mundo, quando as atenções estariam voltadas para a África do Sul, para executar o plano. Essa foi uma das conclusões do inquérito apresentadas, nesta sexta-feira, pelo delegado Edson Moreira, que a Polícia Civil de Minas apresentou ao Ministério Público. O delegado disse que o jogador é o autor intelectual e material do crime. Moreira pediu a transformação da prisão temporária de todos os envolvidos em prisão preventiva, ou seja, até o julgamento do caso.
Segundo o delegado, apesar de não haver corpo, provas materiais diretas e indiretas comprovaram a morte de Eliza. A mais importante delas, de acordo com Moreira, é o filho da ex-amante de Bruno - que seria o principal motivo do crime - não estar com a mãe. Ele afirmou que a criança seria uma garantia de vida estável para a ex-amante de Bruno, ao menos pelos próximos 18 anos. Além da pensão alimentícia, citou cachês que a jovem ganharia dando entrevistas para programas de televisão.
O delegado disse que os vestígios de sangue de homem encontrados na Range Rover do goleiro Bruno dirigida por seu amigo e braço direito, Luiz Henrique Romão, o Macarrão, quando Eliza Samudio foi levada do hotel em que estava hospedada, na Barra, na noite do dia 4 de junho, para Minas Gerais - é do menor de 17 anos, primo do jogador. O fato, segundo o delegado comprova que o menor e Eliza estavam no carro e tiveram a briga relatada por ele em seu primeiro depoimento à polícia, no inquérito que trata do desaparecimento da ex-amante de Bruno. Para identificar o sangue na Range Rover, a polícia usou a saliva contida em um copo de água bebido pelo adolescente e fez a confrontação com o DNA do sangue no veículo. Moreira afirmou que, apesar de o menor ter mudado a versão para o caso várias vezes, o primeiro depoimento do adolescente foi confirmado cientificamente, tanto pelo DNA, quanto pelo GPS do veículo, que mostra que o carro percorreu o mesmo caminho declarado por ele em uma sua primeira versão.
- No dia 10, o derradeiro, por volta das 19h, Macarrão e o menor colocaram Eliza no interior do Eco Sport com a criança e uma mala vermelha. Eles a levaram para a região da Pampulha para encontrar com Bola, já contactado desde fevereiro, o que mostra premeditação. Os telefones celulares dos três estavam nesta área: o do menor, o do Macarrão e o do Bola - disse o delegado, acrescentando que, de lá, Eliza foi levada ao sítio de Bola, onde foi executada por asfixia.
Ainda segundo o delegado, foi encontrado no computador de Macarrão um contrato preparado para que Eliza assinasse, aceitando o acordo de receber R$ 3.500 de pensão mensal - valor considerado baixo anteriormente por ela.
O pai de Eliza, Luis Carlos Samudio, estava na coletiva e chorou ao ouvir o delegado descrever como sua filha foi supostamente morta. Moreira informou que uma investigação complementar prosseguirá a busca pelo corpo da ex-amante de Bruno.
O delegado titular do Departamento de Investigação (DI) de Belo Horizonte, Edson Moreira, que concluiu o inquérito sobre o desaparecimento e morte de Eliza Samudio, mudou a data do assassinato da ex-amante do goleiro Bruno.
Ele alterou a data para o dia 10 de junho, baseado no cruzamento das ligações dos celulares dos acusados e de testemunhas que dizem terem visto Eliza no viva no dia 09 - data que inicialmente a polícia acreditava ter ocorrido o crime.
Moreira afirmou que acredita que a morte de Eliza tenha ocorrido por provas como: o abandono do filho de Eliza em Minas Gerais pela mulher do goleiro; a contratação de um ex-policial com táticas de guerrilha apontado pelo menor por matar Eliza; fralda do bebê encontrada no motel; fotos do filho de Eliza queimadas perto do sítio de Bruno; além do sangue do menor encontrado no carro que pertence ao goleiro.
Goleiro Bruno após mudança de visual. Goleiro pode ser indiciado por seis crimes.
Bruno de Souza foi indiciado por homicídio, sequestro e cárcere privado, ocultação de cadáver, formação de quadrilha e corrupção de menores. Responderão pelos mesmos crimes Luiz Henrique Ferreira Romão (o Macarrão), Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, Dayane Souza, Elenilson Vitor da Silva, Sérgio Rosa Sales (primo do atleta) e Fernanda Gomes de Castro (amante do goleiro).
Bruno foi mentor, afirma delegado
"Bruno é autor material e intelectual do sequestro e assassinato da ex-amante, Eliza Samudio", disse Moreira. De acordo com o delegado, Bruno sabia de tudo, planejou o crime, participou do sequestro e cárcere privado, mas não teria estado presente no local do homicídio.
"Segundo depoimentos de testemunhas, Bruno aguardou no sítio, não foi até a casa do Bola, em Vespasiano. Pelo menos todos tiram ele de lá, formam uma barreira de proteção em volta do jogador. Sabem que se ele sair dessa vai ajudar a todos. Mas ele é autor do plano, sequestro, sabia de tudo que estava acontecendo", esclareceu o delegado.
Se for condenado, o goleiro pode pegar de 19 a 54 anos de prisão.
Polícia afirma que Fernanda participou ativamente de sequestro
Os investigadores afirmaram que Fernada Castro, amante do goleiro, teve contato direto com Eliza Samudio. Ela teria recebido Eliza no apartamento de Bruno, na zona oeste do Rio de Janeiro, logo após ter ocorrido o sequestro no dia 04 de junho, escondendo o rosto com uma camisa branca.
Essa informação, segundo a polícia, foi passada em depoimento. No entanto, durante a coletiva, os policiais não informaram quem fez essa afirmação.
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A amante do goleiro teria, inclusive, escondido o rosto com camisas quando ficou no motel em Contagem, local onde Luiz Henrique Romão (o Macarrão), Bruno, Eliza e seu filho, o menor, além de Fernanda pararam para dormir a caminho do sítio do jogador.
A polícia também disse que Sérgio Sales, primo do jogador, esteve no motel. Ele teria ido ao local a pedido de Bruno para levar Fernanda em um passeio de carro para mostrar a cidade à amante. Depois do passeio ele teria dormido no mesmo motel.
DNA coletado a partir de copo plástico
Ainda durante a coletiva, Moreira disse que coletou o material para exame de DNA do menor J., primo de Bruno, a partir de um copo descartável que ele usou na delegacia.
O adolescente se recusou a ceder sangue ou cabelo para o exame, para não gerar provas contra ele mesmo. De acordo com Moreira "o procedimento é legal, já que ele bebeu um copo dentro da delegacia que pertencia à polícia", disse.
A partir do exame de saliva os peritos constataram que o sangue da segunda pessoa que estava no carro do jogador Bruno era realmente do adolescente - o que corrobora o relato do menor no seu depoimento, no qual afirmou que teria lutado com Eliza dentro do carro de Bruno para sequestrá-la. O outro sangue era de Eliza Samudio.
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