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quarta-feira, 24 de junho de 2009

A VELHICE

A VELHICE

Rubem Alves

“Por oposição aos gerontologistas, que analisam a velhice como um processo biológico, me interesso pela velhice como um acontecimento estético. A metáfora mais bonita que conheço para a velhice é o crepúsculo, o pôr-do-sol.

O crepúsculo é lindo. Faz pensar. No crepúsculo tomamos consciência da rapidez do tempo. No crepúsculo sentimos o tempo fluir rapidamente. Por isso muitas pessoas têm medo dele. A famosa “happy hour” foi inventada como terapia para a tristeza do crepúsculo...

A juventude eterna, que é o padrão estético dominante em nossa sociedade, pertence à estética das manhãs. As manhãs têm uma beleza única que lhes é própria. Mas o crepúsculo tem um outro tipo de beleza, totalmente diferente da beleza das manhãs.

A beleza do crepúsculo é tranqüila, silenciosa, talvez solitária. No crepúsculo, tomamos consciência do tempo. Nas manhãs, o céu é como um mar azul, imóvel. Nos crepúsculos, as cores se põem em movimento: o azul vira verde, o verde vira amarelo, o amarelo vira abóbora, o abóbora vira vermelho, o vermelho vira roxo, tudo rapidamente.

Ao sentir a passagem do tempo, nós nos apercebemos de que é preciso viver o momento intensamente. Tempus fugit - o tempo foge - portanto, Carpe diem - colha o dia.

No crepúsculo, sabemos que a noite está chegando. Na velhice sabemos que a morte está chegando. E isto nos torna mais sábios e nos faz degustar cada momento como uma alegria única. “Quem sabe que está vivendo a despedida olha para a vida com olhos mais ternos...”

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