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sábado, 12 de dezembro de 2009

Homenagem ao Centenário de Mário Quintana


Homenagem ao Centenário de Mário Quintana

- Mário Quintana por Mário Quintana -

30/07/1906 - 05/05/1994
(Texto escrito pelo poeta para a revista Isto É de 14/11/1984)



Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão.

Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas...

Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.


Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu...

Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura.

Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação.

Não importa saber se a gente acredita em Deus:
o importante é saber se Deus acredita na gente...
O despertador é um acidente de tráfego de sono..
O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.
Todos esses que aí estão atravancando meu caminho, eles passarão...eu passarinho!
Esta vida é uma estranha hospedaria, de onde se parte quase sempre às tontas, pois nunca as nossas malas estão prontas, e a nossa conta nunca está em dia.
Não te abras com teu amigo que ele um outro amigo tem. E o amigo do teu amigo possui amigos também...
O tempo é a insônia da eternidade.
A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.
O segredo é não correr atrás das borboletas...
É cuidar do jardim para que elas venham até você.

Se tu me amas, ama-me baixinho.

Não o grites de cima dos telhados, deixa em paz os passarinhos.

Deixa em paz a mim!

Se me queres, enfim, tem de ser bem devagarinho,
amada, que a vida é breve, e o amor mais breve ainda.
Sempre me senti isolado nessas reuniões sociais:
o excesso de gente impede de ver as pessoas...
***

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