Aos 74 anos, morre cantora argentina Mercedes Sosa
RIO - O corpo da cantora argentina Mercedes Sosa, que morreu na manhã deste domingo, está sendo velado na sede do Congresso Nacional argentino, em Buenos Aires. A artista de 74 anos estava internada desde o dia 18 de setembro no Sanatorio de la Trinidad, em Palermo, Buenos Aires, e seu estado de saúde se agravou na última semana, devido a problemas renais que afetaram o sistema cardiorrespiratório e órgãos vitais. A cantora estava em coma e respirava com a ajuda de aparelhos. A cremação do corpo está prevista para segunda-feira, no cemitério de Chacarita.
"La Negra", como ela era conhecida carinhosamente por seu cabelo escuro, foi apontada como "a voz da maioria silenciosa", por sua defesa dos pobres e sua luta pela liberdade.
"Nesta data, na cidade de Buenos Aires, Argentina, temos que informar que a senhora Mercedes Sosa, a maior artista da Música Popular Latino-americana, nos deixou", afirmou sua família em uma nota. "Haydé Mercedes Sosa nasceu no dia 9 de julho de 1935 na cidade de San Miguel de Tucumán. Com 74 anos e uma trajetória de 60 anos, ela transitou por diversos países do mundo... e deixou um grande legado", acrescentou a mensagem da família.
Imagens da carreira e dos amigos de Mercedes Sosa
Assista a Mercedes Sosa cantando "Gracias a la vida"
Ouça 'Volver a los 17', de Mercedes Sosa e Milton Nascimento
O Brasil começou a despertar para a riqueza da voz de Mercedes Sosa em 1976, após um dueto da cantora argentina com Milton Nascimento. A faixa "Volver a los 17", da compositora chilena Violeta Parra - de quem Mercedes foi uma das principais intérpretes - virou um dos maiores destaques do hoje clássico álbum "Geraes". A partir daí, a barreira da língua não mais impediu que brasileiros se apaixonassem pelo marcante timbre de contralto de Mercedes Sosa e por seu repertório, entre canções folclóricas e de conteúdo político e social.
Os discos de Mercedes passaram a ser lançados regularmente no Brasil. A cantora gravou novos encontros com artistas da MPB como Fagner, Chico Buarque e, recentemente, Caetano Veloso - em outubro de 2008, aproveitando a visita de Mercedes ao Rio, para receber a Ordem do Mérito Cultural, em cerimônia realizada no Teatro Municipal.
Para Fagner, ela deixou a lição de ser uma "guerreira". "Ela tinha importância fundamental na música da América Latina. Nos momentos difíceis que passamos, ela virou a grande bandeira", disse ele à Globonews TV, referindo-se à luta da cantora argentina contra os regimes ditatoriais da América do Sul. "Perdi uma grande amiga. Com ela entrei nos países da América Latina cantando. Perdi uma pessoa muito próxima e generosa. Ficam as lições de uma mulher guerreira e de voz linda, que colocou sua arte a serviço das causas mais importantes."
A faixa com Caetano fez parte do disco de duetos, lançado este ano, com um variado leque de convidados, incluindo ainda a colombiana Shakira, o uruguaio Jorge Drexler e a mexicana Julieta Venegas.
Mercedes Sosa foi descoberta aos 15 anos, ao participar de um concurso de uma rádio em sua cidade. Seu primeiro álbum, "La voz de la zafra", foi lançado em 1962, com repertório calcado em canções folclóricas. Os dois seguintes, "Canciones con fundamento" (1965) e "Yo no canto por cantar" (1966), já em seus títulos deixavam claro o engajamento político de La Negra, apelido que ganhou devido aos longos e lisos cabelos negros.
Peronista na juventude, Mercedes alinhou-se à esquerda a partir dos anos 1960. Em 1979, perseguida pela ditadura militar argentina, ela se exilou na Europa, vivendo em Paris e Madri. Nos anos 1990, foi opositora do presidente Carlos Menen e, depois, apoiou seu sucessor, Néstor Kirchner.
"Na realidade, eu nasci para cantar. Minha vida está dedicada a cantar, a buscar canções e a cantá-las", afirmou em uma entrevista em 2005. "Se entrasse em política, teria que descuidar do mais importante para mim, que é o folclore."
Independentemente das posições políticas, Mercedes merece ser ouvida por sua grande voz e seu repertório, em discos como "El grito de la tierra", "Homenaje a Violeta Parra", "Cantada Sudamericana", "Interpreta Atahualpa Yupanqui", "Corazón Americano" (com Milton Nascimento e León Gieco) e "Alta fidelidad" (com Charly García). Seu último disco, "Cantora, vol. 1", teve três indicações ao Grammy Latino deste ano - que será anunciado em novembro.
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