Grampos da PF ligam genro de Lula a uma quadrilha
Marlene B�rgamo/Folha
Chama-se Marcelo Sato o genro de Lula. O marido de Lurian (foto), a filha mais velha do presidente.
Grampos telefonicos feitos pela Policia Federal com ordem judicial captaram dialogos de Sato com o empresario João Quimio Nojiri.
O interlocutor do primeiro-genro foi preso pela PF em 21 de maio de 2008. O acusado de integrar uma quadrilha que operava em Santa Catarina e São Paulo.
Deve-se a informação ao reporter Gustavo Ribeiro. Ele teve acesso a relatarios e transcrições das escutas da PF. Levou os dados as paginas de Veja.
A voz do marido de Lurian soou na Operação Influenza. Envolve a apuração de crimes como lavagem de dinheiro, fraudes cambiais e trafico de influencia.
Os grampos revelam que Marcelo Sato recebeu do empresario Nojiri a mixaria de R$ 10 mil. Dinheiro que deveria repassar a mulher, Lurian.
Segundo a PF, o primeiro-genro atuou como lobista da quadrilha. Acompanharia processos em orgãos federais. Agendaria encontros com autoridades.
Num dos dialogos captados pela PF, o empresario Nojiri conversa com um amigo identificado nos relatarios policiais como Guilherme.
Fala de uma necessidade financeira da filha de Lula. Informa que vai "resolver a questão dela". Eis um trecho da conversa:
- Noriji: Eu precisava do radio, do ID do radio da Lurian.
- Guilherme: Eu não tenho.
- Noriji: Achei que voce tinha o radio dela.
- Guilherme: Não, não tenho.
- Noriji: E como voce fala com ela?
- Guilherme: MSN.
- Noriji: Ta bom, então. Eu estou conversando com ela por e-mail. Diz a ela que eu estou resolvendo a questão dela, de uma necessidade, ate sexta feira. Para ela dar uma consultada na conta do marido [Marcelo Sato].
- Guilherme: Tem certeza que tem que ser na conta dele? Porque ele não vai dizer a ela que entrou e ele não autoriza a ficar checando conta...
Uma hora e trinta e cinco minutos depois dessa ligação, Nojiri conversa com sua secretaria. Ordena que faça dois depositos de R$ 5 mil na conta do genro de Lula:
- Noriji: Josi, aquele deposito. A Sacha te falou que tinha que fazer?
- Secretaria: Deposito do Village?
- Noriji: Não, o outro. Do Marcelo [Sato].
- Secretaria: To aguardando um ok do senhor, se é pra fazer na conta dele ou na conta da esposa.
- Noriji: Faz na conta dele mesmo. Dois depositos de cinco, ta bom?.
- Secretaria: Ta otimo então. Vou falar pra fazer na conta dele.
Decorridos mais vinte minutos, Nojiri toca o telefone para Marcelo Sato. Tratam-se de maneira afetuosa:
- Nojiri: Oi, querido.
- Marcelo Sato: Fala, querido. Tudo bem?
- Noriji: Eu estou fazendo um negocio pra voce, ta? To sabendo que voce ta precisando. Conta com isso.
- Sato: Ta. Bom, a gente conversa direitinho...
Noutro dialogo pescado pelos grampos da PF, o genro Sato promete colocar o investigado Noriji, que seria preso meses depois, em contato com o sogro Lula.
A conversa é de 14 de fevereiro de 2008. Os interlocutores encontravam-se em Brasilia:
- Nojiri: Ta, mas que horas voce acha que é bom ir pra la?
- Marcelo Sato: Ah, porque hoje ele vai receber o presidente de Guiné Equatorial. Era pras 15h. Ele ta atendendo agora a agenda das 13h45. Ai depois tem o presidente, tem a Dilma, tem o Múcio, ai a gente.
- Nojiri: Então, mas que horas voce acha que a gente tem que ir pra la?
- Sato: Umas 18h30, por ai. Em principio, o Múcio tava pra umas 19h. Acho que ele vai antecipar tudo e a gente conversa com ele. Ele vai pro Chile e volta domingo [...]. [...]
- Nojiri: Onde voce ta?
- Sato: Agora eu to aqui saindo do [Palacio da] Alvorada.
- Nojiri: Voce não quer encontrar antes da gente ir la pro anexo?
- Sato: Se voce quiser ir pra la, pode ir. Porque eu ja vou acertar direitinho la no gabinete agora, entendeu?
- Nojiri: Pode deixar marcado. Deixa tudo certo. Ta falando pra conversar com voce antes de eu te encontrar, pra ir junto pra la. Que que voce quer fazer?
- Sato: Quero sentar la no Palacio agora, falar: Vem pra ca tal hora, certinho, que a gente vai falar.
A assessoria de Lula informa que não ha registro de encontro de Nojiri com o presidente. O nome do investigado não consta da agenda oficial do dia (veja aaixo).
Ouvida a respeito dos R$ 10 mil providos por Nojiri, Lurian declarou: "Não conheço esse homem. Nunca ouvi falar dele e não sei de dinheiro nenhum".
O marido dela diz coisa diferente. Admite a proximidade do casal com o investigado, com quem diz manter uma amizade de dez anos.
Marcelo Sato afirma que os R$ 10 mil depositados pelo investigado Nojiri em sua conta decorreria de um emprestimo pessoal. Informa que ja pagou a divida.
O que diz Nojiri? Confirma o vinculo com o casal Sato-Lurian. Sobre o suposto emprestimo e o respectivo pagamento, desconversa: "Não me lembro desses detalhes".
Segundo a PF, Sato mantinha com Nojiri um relacionamento de mão dupla. Em varios dialogos grampeados o primeiro-genro apareceria agendando almoços, reuniões e audiencias em Brasilia.
Na versão da policia, Sato contaria com o apoio do deputado federal Dúcio Lima (PT-SC).
Compadre da filha e do genro de Lula, o deputado Dúcio afirma não ter nenhuma relação com esse pessoal investigado pela PF.
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