Risco oculto nas areias das praias
Estudos revelam altos índices de contaminação: no Leme, há 100 vezes mais coliformes fecais que o tolerável, o que causa doenças intestinais e de pele
Rio - O verão e o outono passaram, o inverno já chegou e até agora nada da divulgação na orla, tantas vezes prometida, da qualidade das areias do Rio. Mas três pesquisas mostram que a situação é pra lá de preocupante: no Leme, quantidade de coliformes fecais é mais de 100 vezes maior que o tolerado. Em 93% das mostras coletadas na Barra e 88% em Copacabana foi detectada a presença de bactéria Ascaris spp, causadora de lombriga. Na Ilha do Governador e em Paquetá, por exemplo, mulheres podem contrair candidíase, que causa ardor e coceira.
Foto: Alexandre Brum
Estudo realizado em junho pelo Instituto de Pesquisas Biomédicas da Universidade Gama Filho identificou a presença de 44 mil coliformes fecais em 100 gramas de areia analisadas na Praia do Leme. No Baixo Bebê, no Leblon, são 2.500 coliformes. O limite tolerável é de 400 coliformes por 100 gramas de areia.
SUJEIRA TOTAL NO LEME
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente admitiu que, neste verão, o índice na escala de 0 a 100 para “não recomenda” para as areias do Leme foi de 83. Ano passado, bateu os 100. O índice máximo também foi carimbado em Copacabana, Flamengo, no Pepê (na Barra) e na Ilha.
O coordenador da pesquisa da Gama Filho, o microbiologista João Carlos Tórtora, afirma que a presença excessiva de coliformes e bactérias causa doenças intestinais, de pele, olhos e ouvidos. “Estou com manchas na pele”, queixou-se Natasha Borges, 20 anos, jogadora de vôlei de praia, que pratica o esporte em Copacabana, apesar dos transtornos.
Resultado preliminar de estudo da Fiocruz também mostra altos índices de coliformes, fungos e outros parasitas nas areias da Ilha do Governador e de Paquetá. Na Praia da Bica, na Ilha, por exemplo, ficar com biquíni molhado representa risco de candidíase. “A análise mostrou que as areias estavam totalmente impróprias”, alerta a pesquisadora Adriana Sotero, do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental.
Painéis viriam mês que vem
Na praia mais famosa do Rio também foram encontradas as bactérias do bicho geográfico (Ancylostoma spp) em 29% das amostras, e de solitária (Taenia spp), em 54%. Apesar se não terem acesso a esses dados, frequentadores de Copa colecionam relatos nada animadores. “Sempre escuto aluno falar que pegou micose. A areia é muito podre”, conta o professor de Educação Física Renato Lopes, 27. “À noite, moradores de rua usam a praia como banheiro”, reclama o pescador Manoel Rebouças, 49. Os trechos mais críticos são os próximos às ruas República do Peru e da Souza Lima.
Na Barra, 93% das amostras apontaram presença de Ascaris (lombriga), enquanto a Taenia (solitária) foi identificada em 62%. A promessa das autoridades é que, mês que vem, os micróbios não estarão mais tão invisíveis: painéis na orla indicarão a qualidade da areia.
CUIDADOS
Não deixe as crianças brincarem diretamente na areia. Elas costumam levar tudo à boca.
A areia molhada é o melhor lugar para recreação. A água salgada limpa as impurezas.
Sente sempre em cangas, esteiras ou cadeiras. Evite contato direto com a areia, principalmente com biquínis molhados.
Use sempre chinelos.
Evite sentar próximo a línguas negras, que têm esgoto.
Areia coberta por sombra de árvores oferece maior risco de contaminação. A falta de sol ajuda a proliferação de microrganismos.
Não jogue lixo na praia. A Comlurb chega a recolher 180 toneladas de lixo em um único dia. A Barra é a mais poluída pelos frequentadores.
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