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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

ABELARDO BARBOSA CHACRINHA

"Chacrinha vale um trilhão de vezes mais que a TV idiotizada de hoje", diz cineasta.


Um filme que veio para confundir, não para explicar. É com esse bordão, roubado de Abelardo Barbosa, o Chacrinha, que o diretor Nelson Hoineff está promovendo “Alô, Alô, Teresinha!”. O filme ganha sessão especial nesta terça-feira (27), na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, com a presença de uma dezena de ex-chacretes, e estreia em todo o País na próxima sexta-feira.

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Abelardo Barbosa, o Chacrinha, posa com uma trupe de chacretes nos anos 1980




Longe de ter a pretensão de biografar Abelardo Barbosa (1917-1988), Hoineff está interessado em mostrar o caráter transgressor do programa que Chacrinha apresentou por quase 40 anos nas TVs Tupi, Globo e Band. “É um filme sobre a transgressão, não sobre o Chacrinha”, diz.

“Chacrinha foi um dos raros artistas da televisão brasileira que ousou transgredir e não fazer uma tevê pasteurizada. O programa dele vale um trilhão de vezes mais que essa tevê idiotizada e pasteurizada que vemos hoje”, afirma Hoineff.

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Filme usa farto material de arquivo e
entrevistas para recuperar clima da atração

O clima do programa do Chacrinha é revisto com a ajuda de um farto material de arquivo, que mostra o apresentador em ação, e uma série impressionante de depoimentos.

Pela tela de “Alô, Alô Terezinha” desfilam ex-chacretes, ex-calouros, músicos e colaboradores que fizeram a fama do programa. Todos rememoram o apresentador e falam sobre o impacto da “Discoteca do Chacrinha” em suas vidas.

Marca registrada da atração, as chacretes formam o núcleo do filme. Envelhecidas, elas falam com saudade da atração e do apresentador. Dividem-se entre as que reconhecem ter aproveitado os tempos do Chacrinha para fazer programas sexuais e as que afirmam nunca ter visto isto.

Uma chacrete apresenta a lista de todos os cantores famosos com quem saiu (só Roberto Carlos escapou) e a lista dos músicos mais animados nos bastidores. Várias topam vestir os apertados maiôs que usavam na época e Índia Potira, uma das mais famosas, encena um show para as câmeras de Hoineff usando apenas a fantasia, mas sem roupa.

O material sobre as chacretes rendeu tanto que Hoineff está produzindo uma série sobre elas, com 13 episódios, para o Canal Brasil. Com previsão de estreia para fevereiro de 2010, cada episodio contará a história de uma das dançarinas do Chacrinha.

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Rita Cadillac, como não podia deixar de
ser, dá seu testemunho no documentário



















Diferentes calouros que se submeteram à buzina do Chacrinha também dão depoimentos em “Alô, Alô Terezinha”. Dois cantores gagos tentam, hoje, entender porque não foram bem-sucedidos, enquanto um outro ex-calouro se diz injustiçado de ter levado a buzina, enquanto Roberto Carlos, que não sabe cantar, segundo ele, faz tanto sucesso.

Ao entrevistar os músicos que passaram pelo programa (de Fabio Junior a Ney Matogrosso, de Beth Carvalho a Byafra, de Gilberto Gil a Agnaldo Timóteo), Hoineff faz com que quase todos cantem, a capela, as músicas que apresentaram no passado, no Chacrinha, produzindo outro efeito de impacto.

“Tentei incorporar no filme o ideário anárquico do Chacrinha”, diz Hoineff, que não aceita a crítica de ter exposto excessivamente as chacretes ou os calouros no filme. “Essa é uma crítica de pessoas que passam pela vida sem ver a vida. Que não aceitam que atrás da bunda da chacrete gostosa existe uma mulher. E por trás desta mulher existe um ser humano, como todos nós, com seus altos e baixos.”

Um retrato pessoal de Paulo Francis

Além de “Alô, Alô Terezinha”, Nelson Hoineff apresenta na 33ª Mostra o documentário “Caro Francis”, sobre o jornalista Paulo Francis (1930-1997), de quem foi amigo por mais de 20 anos. O filme tem previsão de estrear no circuito comercial em janeiro de 2010.

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O diretor Nelson Hoineff faz retrato íntimo do amigo Paulo Francis em "Caro Francis"

“Não é uma peça com isenção jornalística”, avisa o cineasta. “É uma homenagem carinhosa a um dos mais influentes jornalistas brasileiros na segunda metade do século 20”, diz. “E também um dos mais contraditórios.”

Com a ajuda de depoimentos de amigos, Hoineff discute, sem se aprofundar, alguns temas espinhosos, como a conturbada saída de Francis da Folha de S.Paulo, o seu fracasso como romancista, o processo que sofreu da Petrobras, depois de acusar a cúpula de empresa de manter contas secretas na Suíça, e sua própria morte. Por três dias antes de morrer, Francis queixou-se de dores no braço esquerdo. Foi tratado de bursite, quando poderia estar sofrendo um infarto.

As ressurreições de Cauby

No momento, em São Paulo, Nelson Hoineff grava depoimentos para um documentário sobre o cantor Cauby Peixoto. Como os filmes sobre Chacrinha e Paulo Francis, “não tem um segundo de biografia” no novo projeto. “É um filme sobre recomeço”, diz.

O filme se intitula “Começaria Tudo Outra Vez”. “Ninguém vai ouvir o depoimento da primeira professora do Cauby”, promete Hoineff. “Esse filme é uma tentativa de decifrá-lo.”

Assista ao trailer de "Alô, Alô, Teresinha":

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