Vida e morte de um morador de rua
Bororó nasceu Manoel Pedro da Conceição, em 1947. Foi na antiga Rua Carmem, hoje Engenheiro Gastão Rangel, em Santa Cruz, que viveu sua infância e adolescência. Foi neste mesmo endereço que, inconformado com a venda da casa dos pais, teve distúrbios psicológicos e, durante 40 anos, passou a mendigar, dormir ao relento e viver de esmola. E foi exatamente lá que Bororó acabou brutalmente assassinado, com dois tiros na cabeça.
O corpo foi encontrado na madrugada do último dia 19. Bororó foi deixado em meio a restos de lixo, dentro de uma caçamba. Policiais militares foram avisados por pessoas da região, que deram falta do morador de rua. O crime, entretanto, pode não ter sido cometido naquele mesmo dia. O laudo da perícia constatou que o corpo estava em adiantado estado de putrefação. A morte de Bororó — ou Manoel Pedro — chocou os moradores da Rua Engenheiro Gastão Rangel e fez lembrar o calvário dos desvalidos descrito pelo poeta João Cabral de Melo Neto, no poema “Morte e vida severina”.
A notícia do assassinato se espalhou e acabou indo parar no Orkut. Em 2006, um dos adoradores de Bororó resolveu prestar-lhe uma homenagem, criando uma comunidade no site de relacionamentos. Hoje, ela já conta com 1.330 seguidores. Foi no Orkut que a população resolveu demonstrar sua revolta com o covarde crime. De acordo com um comerciante da região, Bororó “era muito magrinho e andava tão lento que um sopro o derrubaria”. Bororó seria enterrado como indigente se não fossem integrantes da pastoral de rua da Igreja Nossa Senhora da Conceição, em Santa Cruz. Eles conseguiram que Manoel Pedro fosse identificado e tivesse um enterro digno.
— Conseguimos levantar o endereço da família, encontramos sua certidão de nascimento e o identificamos no Instituto Félix Pacheco — lembra Tatiana Santos.
O enterro de Bororó foi realizado no Cemitério de Santa Cruz. Além dos quatro primos, quase cem pessoas foram ao sepultamento. E a adoração por ele é tão grande que os moradores da Zona Oeste já pensam em juntar dinheiro para confeccionar uma estátua para ser colocada nas esquinas das ruas Felipe Cardoso e Engenheiro Gastão Rangel. Era naquele local que Bororó — nascido Manoel Pedro da Conceição — costumava pedir esmolas.
Bororó foi torturado antes de morrer e ser jogado no lixo
Antes de ser morto com dois tiros na cabeça, Bororó pode ter passado por uma sessão de tortura. Ele foi encontrado com os dois braços quebrados e sinais de que algo fora introduzido em seu ânus. O corpo apresentava manchas roxas e foi deixado na Rua Tarso Braso, próximo de onde costumava passar os dias e as noites.A polícia ainda não sabe como ele foi deixado ali. Há informações — ainda não confirmadas — de que ele teria sido arrancado da Rua Engenheiro Gastão Rangel e colocado dentro de um carro.
Próximo de onde o corpo foi encontrado, na mesma noite, houve uma confusão na saída de uma festa. Um jovem foi baleado. O delegado José de Morais, titular da 36ª DP (Santa Cruz), praticamente descarta relação nos dois casos, pelo laudo do IML.
— O morador de rua não foi morto no dia em que foi encontrado. O outro caso já estamos apurando — explicou o policial.
O delegado José de Morais disse que já instaurou um inquérito para apurar a morte do morador de rua. Inicialmente, o registro na delegacia havia sido feito como encontro de cadáver de um indigente. Os familiares auxiliaram na identificação de Bororó.
— Agora que temos a identificação, vamos correr atrás para apurar tudo com o máximo rigor. Foi uma crueldade o que fizeram com ele — disse o delegado.
NOTA : OS ASSASSINOS NÃO SE LEMBRAM DE QUE ELES DEVERIAM É SE MATAR E NÃO AOS OUTROS.
É REVOLTANTE FIQUEI MUITO TRISTE COM SUA MORTE TÃO BRUTAL PENSO QUE DEVEMOS COBRAR DAS AUTORIDADES RIGOR NAS INVESTIGAÇÕES. MORRO DE MEDO DE PENSSAR QUE VIVO NUM MUNDO COM MONSTRO CAPASES DE ATOS TÃO CRUÉIS.
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