Bororó, assassinado com dois tiros e torturado, se recusava a ficar em abrigos
Paulo Carvalho - Extra
RIO - Manoel Pedro da Conceição, o Bororó, deveria ter sido mais um morador comum de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio. Lá morou, lá estudou, teve emprego, família, uma vida. Mas a falta de apoio numa crise familiar, a bebida e problemas psicológicos, somados, o empurraram para as ruas, onde viveu por 40 anos, e, dali, para a morte, com dois tiros na cabeça, no mês passado. (Veja entrevista com o secretário de Assistência Social do Rio)
A vida do mendigo pelas esquinas de Santa Cruz seguiu sempre na contramão. Segundo assistentes sociais, muitas vezes Bororó foi abordado e convidado a ir para um abrigo. Seu destino deveria ser o Centro de Reabilitação e Assistência Social Padre Guilherme Decaminada, em Santa Cruz. Mas ele recusava o acolhimento: limitava-se a receber alimento e roupas de cama. Aceitava também alguma ajuda de amigos. E só.
Dependência- Ele tinha um problema, que era a dependência química do álcool. Geralmente, essas pessoas, quando são abordadas, já estão alteradas - diz uma das assistentes sociais.
Até na hora de ser morador de rua Bororó tomou um caminho incomum. Dados da Secretaria municipal de Assistência Social revelam que Santa Cruz é o bairro onde há menos mendigos. Um dos fatores é que lá o consumo de crack não atingiu ainda a proporção de outros pontos do Rio. Na região, também não existe um comércio forte, que atraia moradores de rua em busca de esmolas.
Para o secretário de Assistência Social, Fernando William, o passado de violência faz com que um morador de rua se torne arredio na hora de receber ajuda. Bororó, por exemplo, não aceitou a venda do imóvel da família.
Contam os moradores que ele também teve problemas psicológicos, ao saber que não receberia apoio da família quando contou que a namorada estava grávida. Ela acabou indo embora.
- A violência contra eles não é explicita, mas ocorre. Há pessoas que defendem o fato de eles criarem ali seu habitat. Mas eles podem sofrer consequências drásticas, como foi o caso do Bororó - explica o secretário.
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