RIO - Ele hoje é dono de dois gatos, mas há 40 anos tinha um felino de estimação, digamos, um tanto maior. Aos 63 anos, o australiano Anthony Ace Bourke ainda lembra cada detalhe de sua fascinante aventura ao lado do amigo John Rendall e de Christian, o companheiro leão que fez história nas ruas de Londres. Os passeios dos jovens Ace e Rendall com o animal pela capital cativaram toda uma geração, mas o emocionante reencontro dos três tempos depois na África virou um fenômeno. Tal sucesso voltou à tona há pouco mais de um ano, quando o vídeo e as fotos dos três circularam o mundo pela internet.
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- Acredito que o sucesso ocorre porque as pessoas se sentem muito distantes da natureza hoje em dia. Na verdade, faço a mesma pergunta aos jornalistas quando questionado sobre o fenômeno. Parei de contar o número de visitas ao vídeo no YouTube quando atingiu 60 milhões - conta Ace, que reeditou com Renadall o livro "Um Leão Chamado Christian", lançado no Brasil pela editora Nova Fronteira.
Quando Rendall e Ace deixaram a Austrália para experimentar o espírito revolucionário da década de 70, eles nunca poderiam imaginar que suas vidas se tornariam tão selvagens. Foi explorando os pontos turísticos de Londres que eles se depararam com a coisa "mais irresistível" que já haviam visto em suas vidas: o então pequeno Christian.
The lion reunion christian full
Não somos exatamente turistas típicos, mas um dia, num rompante incomum de entusiasmo, visitamos, entre outros pontos turísticos, a Torre de Londres. Decidimos que um contraste apropriado seria nossa primeira visita à Harrods", relembram os autores no livro. Eles se referiam a uma das maiores e mais famosas lojas de departamento da cidade.
- Fomos conhecer a famosa loja. Sabíamos que a Harrods se gabava de ser capaz de fornecer qualquer coisa, a um determinado preço, claro - afirma Ace.
Foi assim que conheceram aquilo que parecia um gatinho e que em poucas semanas começaria a tomar forma de rei.
- Nós pagamos US$ 7 mil por Christian. Ele era bem caro para dois jovens australianos, mas era irresistível. Ele era terrivelmente carismático, divertido, amoroso e muito inteligente - descreve o australiano.
Para levar o troféu para casa, Ace e Rendall passaram por uma seleção rigorosa da loja. Fizeram entrevistas, usaram roupas novas, e criaram cenários em suas vidas que facilitassem a entrega do animal por parte da loja.
"Dividíamos um apartamento pequeno na King´s Road, em Chelsea, em cima de uma loja que nos oferecera trabalho". Por isso, os amigos resolveram colocar um anúncio no "Times", pressupondo que o proprietário de um apartamento fosse leitor daquele jornal.
"FILHOTE DE LEÃO, 2 rapazes procuram um apartamento/casa, quintal, terraço apropriado em Londres, 3527252". A única coisa que conseguiram foi telefonemas de jornalistas querendo fotografar Christian.
Aprovada a compra, Ace e Rendall levaram o animal para casa, onde passaram a tratá-lo como um cachorrinho de estimação.
- Não deveriam ter deixado a gente comprá-lo. Não encorajamos ninguém a comprar animais selvagens. Na época, éramos dois australianos inocentes - afirma Ace.
A vida da nova família passou a ser cada vez mais conhecida na cidade. Christian crescia e não podia sair na rua como antes. Os passeios matinais eram feitos em um cemitério. O porão do apartamento já era totalmente tomado pelo felino.
Um ano após formada a família, Rendall e Ace pensaram no bem-estar de Christian e resolveram levá-lo para o Parque Nacional Kora, no Quênia, onde o animal poderia viver pelas regras da natureza.
- Nós o levamos em 1970. Ficamos em um acampamento e, nas primeiras noites, o Christian voltava para a nossa barraca para dormir no quentinho. Era vergonhoso. Como um leão volta para dormir em um saco de dormir? - relembra e brinca o australiano.
Apesar de serem severamente criticados e alertados sobre a possibilidade de se machucarem, os dois amigos resolveram visitar Christian um ano depois, em 1971. O histórico reencontro foi filmado por um colega.
- Nós tínhamos muita confiança de que ele ainda amaria a gente. Muitas pessoas pensavam que ele vinha correndo na nossa direção para nos atacar. E acredito que essa seja uma das principais atrações do YouTube. Só não imaginávamos que ele brincaria e nos abraçaria tanto - conta Ace.
Um ano após a primeira visita, os dois australianos voltaram para a reserva na tentativa de ver Christian. A procura pelo leão foi maior. Ao contrário da última visita, que levou apenas algumas horas, a segunda levou três dias para que eles encontrassem o animal.
- Ele nos viu e foi ao nosso encontro, mas desta vez bem mais independente - diz Ace, acrescentando que na terceira visita já não foi mais capaz de encontrar Christian. Segundo ele, o animal foi coagido por outros leões recém chegados à reserva.
- Não me arrependo de levá-lo para a selva. A média de vida de um leão na natureza é de 9 anos e, no zoo, 18. Mas não o levaria para viver dentro de uma jaula.
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