Touro Bandido ganha estátua e "biografia autorizada"
Ele morreu no dia 4 de janeiro de 2009, foi enterrado em local nobre no maior parque de rodeios do Brasil, em Barretos, e acaba de ganhar uma estátua em sua homenagem. Morto aos 15 anos de idade, de câncer, esse verdadeiro mito acaba de ganhar uma “biografia autorizada”, talvez a primeira na história dedicada a narrar a trajetória de um touro.
Bandido é o nome dele. Entre 2002 e 2005, mais de 200 cowboys o desafiaram e todos foram ao chão antes de completar oito segundos, o tempo mínimo para caracterizar uma vitória do homem sobre o animal. “Não matou ninguém”, assegura João Paulo Vani, um dos autores de “Bandido, Touro com Alma”. “Tem quem quebrou a perna, quem quebrou um braço...”
João Paulo Vani, um dos autores de "Bandido, Touro com Alma"
A vítima mais famosa de Bandido foi o peão Neyliowan Tomazelli. O encontro entre touro e cowboy deu-se na arena de Jaguariúna, em 2001. Neyliowan e Bandido não se conheciam – e a fama do primeiro, então, era muito maior do que a do segundo. Dois segundos depois da abertura da porteira, o peão já estava no chão. E antes que os palhaços salva-vidas chegassem, Bandido atacou Neyliowan no chão, atirando-o a seis metros de altura. Um massacre, que não custou a vida, mas deixou o peão fora do ar por mais de um ano.
A cena do embate entre Neyliowan e Bandido foi vista na novela “América”, de Gloria Perez, exibida em 2005. Murilo Benício vivia Tião, personagem inspirado em Neyliowan, e Bandido atuou no papel dele mesmo. A novela consagrou o touro. “Ele virou um herói nacional. Entrou para o imaginário popular”, diz Vani.
Outro episódio lendário, relatado na novela, diz respeito ao desafio que Juraci da Silva, conhecido como Doidinho, propôs a Bandido. Na véspera do encontro, Doidinho foi preso, por conta de alguma arruaça, e acabou sendo levado, escoltado pela polícia, à arena, especialmente para participar do desafio.
Mauricio Stycer/iG |
Estátua em homenagem ao touro |
Doidinho serviu de inspiração para o personagem Carreirinha, interpretado por Matheus Nachtergaele, na novela. A trama marca, também, o fim da carreira de rodeios e desafios de Bandido, contratado exclusivo da Globo durante “América”. A partir de então virou um boi de apresentação, usufruindo da fama conquistada.
Um merecido descanso, como mostram Vani, Daniel Martins e Daniel Maia em “Bandido, Touro com Alma”. Cruzamento das raças nelore e simental, nascido no interior de Goiás, em 1994, o touro trocou de donos algumas vezes até ser enviado para o matadouro, provavelmente no final de 1997. Notando a força do touro, alguém observou: “Isso não é touro de matar, é touro de pular”
Começou então sua carreira em rodeios, fazendo parte da tropa de Tércio Miranda, até ser colocado à venda, em 2002, num lote de 12 touros, e adquirido por Paulo Emilio Marques, de São José do Rio Preto. Filho e neto de fazendeiros, Paulo Emilio é dono de uma companhia de rodeios, que leva o seu nome, e revela que hesitou no momento de comprar Bandido.
O touro já estava famoso, tinha quase matado Neyliowan e era tão temido que muitos peões, quando sorteados a montá-lo em rodeios, preferiam não participar da rodada. Até esse momento, Bandido havia tido um única parada oficial, como se diz, em competição de rodeio. Ou seja, em uma única ocasião, um peão conseguiu ficar mais de oito segundos montado no touro.
A solução vislumbrada por seu novo dono, inspirado num modelo americano, seria não mais colocar Bandido em rodeios, mas propor “desafios” contra o touro. Paulo Emilio oferecia determinada soma em dinheiro (começou com R$ 3 mil e chegou a R$ 25 mil) ao cowboy que o vencesse. Os cerca de 200 desafios contra Bandido, que permaneceu invencível, alimentaram o marketing do touro e encheram o cofre do empresário.
Bandido chegou à companhia de Paulo Emilio pesando 750 quilos. “Ganhou 300 quilos de massa”, conta Vani, a base de exercícios, natação e dieta. “No auge, eram 1.100 quilos de puro músculo”, empolga-se o autor da biografia do touro.
Estátua inaugurada na quarta, no Parque do Peão, em Barretos
Bandido não tinha amigos entre os touros e intimidava os seus tratadores. Murilo Benício, que o montou dentro do “brete” (a área fechada, onde o touro fica antes da porteira abrir no rodeio), ficou impressionado com o bicho: “Ele compara a largura das costas do touro com a mesa da praça de alimentação do Projac”, informa o livro.
Com a fama alcançada na novela, Bandido estrelou diferentes campanhas publicitárias, de caminhões, ração e cerveja. Paulo Emílio tratou de zelar por seu patrimônio. Sete clones de Bandido foram desenvolvidos – três não vingaram, um foi sacrificado depois de quebrar uma perna e três estão aí, crescendo. Teve mais de 70 filhos. E há também em estoque 3 mil doses do semen do touro para serem comercializadas.
Diagnosticado com um carcinoma próximo ao olho esquerdo, no final de 2005, Bandido enfrentou nos últimos anos de vida um adversário que temia muito mais que os cowboys: os médicos-veterinários que aplicavam injeções em seu corpo. Também passou por quimioterapia e outros tratamentos – nada que impedisse, até meados de 2008, as viagens com a companhia de rodeio de Paulo Emilio pelo interior de São Paulo, onde era exibido como mito nas arenas.
Morto na fazenda de seu proprietário, em 4 de janeiro deste ano, foi levado para ser enterrado em Barretos, ao lado do Memorial do Peão e em frente do Jeromão, a estátua de 27 metros postada à entrada do Parque do Peão, em homenagem a todos os cowboys. Foi ali que, na quarta-feira, 19 de agosto, foi inaugurada a estátua em sua homenagem e lançada sua biografia. E Bandido deixou a arena para entrar na história.
“Bandido, Touro com Alma” está sendo lançado pela HN Publieditorial, de São José do Rio Preto, em duas versões: uma de luxo, capa dura, bilíngue e numerada (1.000 exemplares) por R$ 200 e uma edição normal, por R$ 100. Até o dia 30, o livro só será comercializado na Festa do Peão, em Barretos, ou pela loja virtual da editora (tourobandidoolivro.com.br).
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