Vitiligo
Em 1993, a apresentadora americana Oprah Winfrey entrevistou Michael Jackson e perguntou se ele clareava a pele por não gostar de ser negro. O cantor negou e revelou sofrer de uma doença que destrói a pigmentação da pele. Disse ainda que usava maquiagem para uniformizar a cor e disfarçar as manchas que a doença causava. Mais tarde, em outras ocasiões, Michael daria nome a essa doença: vitiligo.
Quem tem vitiligo perde melanina, pigmento que dá cor à pele e cabelos. Isso acontece porque as células produtoras de melanina, os melanócitos, são destruídas. Assim, a pele fica com manchas brancas sem pigmentação. Essas manchas podem crescer ou permanecer do mesmo tamanho por anos.
Não se sabe precisamente por que ocorre a destruição das células. Há influência genética, e cerca de 30% dos portadores têm algum parente com a doença. Michael, na mesma entrevista a Oprah, contou que esse seria seu caso: havia pessoas com vitiligo na família do seu pai. Há também influência do sistema imunológico, que destrói indevidamente os melanócitos. Por isso, alguns pacientes têm, junto com o vitiligo, outras doenças auto-imunes, como lúpus ou alopécia areata (a possibilidade do paciente com vitiligo ter essas outras doenças deve ser investigada pelo médico). Em algumas vezes o problema começa com um stress psicológico ou após uma grave queimadura solar. Em outras vezes, não se encontra nenhuma explicação para o aparecimento da doença. Mas sabe-se que não é contagioso.
No vitiligo, manchas brancas invadem subitamente a pele, seja ela branca, negra ou de qualquer outra cor. Se a pele é branca, as manchas são ainda mais claras, e podem incomodar ou não, dependendo da localização. Se a pele é negra, o incômodo é maior, já que o contraste entre pele sã e pele afetada é marcante.
O início é repentino e qualquer parte do corpo pode ser afetada. É freqüente aparecerem manchas nas mãos, braços, pernas, ao redor dos olhos e ao redor da boca. Cabelos, sobrancelhas, cílios e barba podem clarear. Não existe maneira de predizer a evolução da doença. Não há exame ou qualquer pista que indique se ela irá progredir, melhorar sozinha ou ficar estável. O grau da evolução varia, e em casos extremos, a maior parte da pele é afetada.
Tratamentos
Uma vez descartadas doenças imunológicas associadas, trata-se a parte estética. Infelizmente não há cura definitiva. Quase todas as opções de tratamento buscam frear a evolução e estimular novamente a pigmentação. Mas a tendência ao vitiligo persiste, mesmo em quem responde bem ao tratamento. É comum a pessoa passar por algumas opções de tratamento até encontrar aquele que se aplica melhor a ela.
Seja qual for a opção, o paciente não deve expor a pele branca de vitiligo ao sol. Isso porque a pele afetada, desprovida de pigmento, se queima com facilidade, aumentando a predisposição a câncer de pele. Ainda, ao tomar sol, o resto da pele fica bronzeada, intensificando o contraste com as manchas. Finalmente, queimaduras solares estimulam o aparecimento de novas lesões de vitiligo. Por tudo isso, além de fugir do sol, o paciente deve usar diariamente um filtro com alto fator de proteção solar em toda a pele.
O tratamento para escurecer manchas claras pode ser local ou por via oral. Boas opções de tratamento local são cremes que inibem a resposta imunológica, como a cortisona ou os imunomoduladores tópicos. Outra opção de cremes são os psoralênicos, que intensificam a sensibilidade da pele à luz. Após aplicar o produto, o paciente expõe a mancha a lâmpadas específicas para o tratamento ou até mesmo ao sol, sempre sob rigoroso controle médico.
Tratamentos por via oral são indicados para casos extensos. Boa opção são os psoralênicos, tratamento eficiente e bastante delicado. Outras opções, mais modernas, são o laser (Excimer laser) e o uso de luz ultravioleta tipo B de banda estreita. Tais tratamentos vêm ganhando popularidade por não precisarem da aplicação prévia do psoralênico.
Quem não responde bem a nenhum tratamento, muitas vezes utiliza medidas de camuflagem, como uma boa maquiagem.
É possível um negro ficar branco por causa do vitiligo?
Em casos extremos, quando a maior parte da pele é acometida pela doença, médico e paciente podem optar por um tratamento que, ao invés de estimular a pigmentação da área clara, destrói a pigmentação da pele sem vitiligo através de um creme. A pele fica extremamente sensível ao sol, para sempre. Não se usa esse tratamento se o vitiligo atingir menos que 50% da pele, e nunca em quem não tem vitiligo. Aplica-se o medicamento até a pele ficar uniforme.
Quanto a Michael Jackson, embora ele e sua maquiadora tenham revelado publicamente a doença, as dúvidas nunca foram completamente esclarecidas. Todos vimos sua pele mudar de cor, mas ele nunca mostrou ao público uma mancha típica da doença. Nesse aspecto, o cantor preservou sua privacidade. Se ele tinha ou não vitiligo? Essa e outras especulações sobre a vida do astro ficam agora que ele se foi. Junto com a enorme saudade dos milhões de fãs.
Deixo aqui um vídeo interessante sobre vitiligo. Trata-se de uma entrevista que Lee Thomas, âncora da televisão americana, concedeu em 2008 para a ABC. Ele é negro, sofre da doença e escreveu um livro chamado Turning White (ou Ficando Branco), onde fala de sua condição e de sua luta. A entrevista está em inglês e infelizmente não tem legendas. Mas, mesmo que seu inglês não seja dos mais afiados, assista. As imagens valem a pena por mostrar bem o que é a doença.
Nenhum comentário:
Postar um comentário